10 de Fevereiro de 2001. São Paulo, Capital.
Crianças entre cinco e oito anos de idade corriam
pelo pátio de uma pequena escola particular da zona sul da cidade. Era há
primeira semana de volta as aulas.
- Voltem
aqui! Não está comigo! – estrilou uma menina de oito anos de idade. De traços
fortes, cabelos castanhos e sobrancelhas grossas. Seus olhos grandes e
amendoados se destacavam em seu rosto redondo e infantil. A criança cruzou os
braços, esperando os colegas retornarem.
Ao outro lado do pátio, encolhida em um banquinho
de madeira, uma menina aparentemente da mesma idade a observava cabisbaixa. Era
o seu primeiro dia de aula e, exceto duas colegas que lhe perguntaram sua idade
e graciosamente tiraram de suas mochilas duas tesouras sem ponta, oferecendo
para cortar seus perfeitos cachos de cabelo louro, nenhuma outra criança havia a cumprimentado.
A pequenina encolhida no banco espiava a colega emburrada no centro do pátio. Somente
uma das crianças que brincava junto de pega-pega voltou. Um menino de olhos e
cabelos escuros e cacheados, com as bochechas coradas pelo calor e um sorriso
sapeca no rosto. Notava-se também ser bem mais baixo do que a menina de pé a
sua frente.
- Não valeu Denis! Você roubou no par ou impar!
Quando você viu que eu ia ganhar você tirou o dedo!
- Roubei nada!
- Roubou si-im!
- Tá bom, tá bom – o menino se deu por vencido. - Você
quer que esteja comigo?
- Sim!
-Tá bom, tá bom - suspirou.
Antes de sua colega correr, ele a tocou. Com desespero,
o empurrão foi mais forte do que pretendia e a menina caiu no chão.
- Pega! Tá
com você! Tá com a Roberta, tá com a Roberta! Corre! Corre! - Denis fugiu gritando
para os colegas.
- Denis!!! – os olhos dela umedeceram com as lágrimas.
- Não chora. Eu te ajudo - uma voz meiga se
aproximou.
- Eu não vou chorar! – Roberta subiu o olhar para a
menina loira de pé na frente dela. A mesma menina que a observava do banco.
- Vêm. Eu te ajudo a levantar – e lhe estendeu a
mão.
Por um momento, Roberta hesitou em dar a mão para
se levantar, e a pequenina loira, com cara de anjo, sorriu. Um sorriso largo,
cheio de dentes ainda preenchendo os espaços, e contagiante. Quase fez Roberta
se esquecer do tombo que levara.
- Qual o seu nome? – Roberta perguntou passando a
mão pelos cabelos emaranhados de tanto correr, ajeitando o rabo-de-cavalo.
- Melissa. Mas minha antiga professora e meus
amigos me chamavam de Mel. Você pode me chamar de Mel se quiser – respondeu com
um sorriso.
- Ah... Prefiro Melissa – Roberta disse
amargamente.
- Tudo bem. Me chama de Melissa se quiser –
assentiu. - É o meu primeiro dia de aula, minha família acabou de se mudar para
cá. Minha mamãe disse que meu pai conseguiu um bom trabalho por aqui e por isso
a gente se mudou. Eu sinto saudade da minha antiga escola e das minhas amigas.
Eu tinha muitas amigas onde eu morava. Elas sempre dormiam na minha casa. Minha
mamãe gosta de fazer doces então alugávamos um filme da Barbie e comíamos os
doces da minha mãe.
Roberta permaneceu muda. Melissa não conseguiria
muitas amigas por aqui falando tanto desse jeito, pensou.
- E você? – Melissa perguntou calando a matraca.
- Roberta.
- E te chamam de Roberta?
- Sim.
- Ah, mas – fez uma pausa dramática - Eu posso te
chamar de amiga?
A pergunta pegou Roberta de surpresa.
- Er... Não sei. Pode?
A sirene do intervalo foi acionada. As meninas
taparam os ouvidos com o barulho.
Roberta girou nos calcanhares indo para onde as
demais crianças estavam seguindo. Melissa se apressou para acompanha-la.
- Amiga! –chamou.
Andando lado a lado de Roberta, Melissa sorriu
feliz.
- Será que vamos ser amigas para sempre?
Roberta sacudiu a cabeça. Da onde essa menina
tirava essas perguntas?
- Vamos! – Melissa se apressou em dizer, sonhando: –
Vamos ser mais amigas quando grandes. Vamos dividir as nossas roupas e usar
maquiagem! Minha mamãe tem muitas maquiagens, pode nos emprestar.
- Vamos? - Roberta riu. Essa menina do interior era
engraçada.
- Sim. Amigas para sempre!
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