sábado, 8 de fevereiro de 2014

Capítulo Um - Amigas Para Sempre


10 de Fevereiro de 2001. São Paulo, Capital.
Crianças entre cinco e oito anos de idade corriam pelo pátio de uma pequena escola particular da zona sul da cidade. Era há primeira semana de volta as aulas.
 - Voltem aqui! Não está comigo! – estrilou uma menina de oito anos de idade. De traços fortes, cabelos castanhos e sobrancelhas grossas. Seus olhos grandes e amendoados se destacavam em seu rosto redondo e infantil. A criança cruzou os braços, esperando os colegas retornarem.
Ao outro lado do pátio, encolhida em um banquinho de madeira, uma menina aparentemente da mesma idade a observava cabisbaixa. Era o seu primeiro dia de aula e, exceto duas colegas que lhe perguntaram sua idade e graciosamente tiraram de suas mochilas duas tesouras sem ponta, oferecendo para cortar seus perfeitos cachos de cabelo louro, nenhuma outra criança havia a cumprimentado.
A pequenina encolhida no banco espiava a colega emburrada no centro do pátio. Somente uma das crianças que brincava junto de pega-pega voltou. Um menino de olhos e cabelos escuros e cacheados, com as bochechas coradas pelo calor e um sorriso sapeca no rosto. Notava-se também ser bem mais baixo do que a menina de pé a sua frente.
- Não valeu Denis! Você roubou no par ou impar! Quando você viu que eu ia ganhar você tirou o dedo!
- Roubei nada!
- Roubou si-im!
- Tá bom, tá bom – o menino se deu por vencido. - Você quer que esteja comigo?
- Sim!
-Tá bom, tá bom - suspirou.
Antes de sua colega correr, ele a tocou. Com desespero, o empurrão foi mais forte do que pretendia e a menina caiu no chão.
 - Pega! Tá com você! Tá com a Roberta, tá com a Roberta! Corre! Corre! - Denis fugiu gritando para os colegas.
- Denis!!! – os olhos dela umedeceram com as lágrimas.
- Não chora. Eu te ajudo - uma voz meiga se aproximou.
- Eu não vou chorar! – Roberta subiu o olhar para a menina loira de pé na frente dela. A mesma menina que a observava do banco.
- Vêm. Eu te ajudo a levantar – e lhe estendeu a mão.
Por um momento, Roberta hesitou em dar a mão para se levantar, e a pequenina loira, com cara de anjo, sorriu. Um sorriso largo, cheio de dentes ainda preenchendo os espaços, e contagiante. Quase fez Roberta se esquecer do tombo que levara.
- Qual o seu nome? – Roberta perguntou passando a mão pelos cabelos emaranhados de tanto correr, ajeitando o rabo-de-cavalo.
- Melissa. Mas minha antiga professora e meus amigos me chamavam de Mel. Você pode me chamar de Mel se quiser – respondeu com um sorriso.
- Ah... Prefiro Melissa – Roberta disse amargamente.
- Tudo bem. Me chama de Melissa se quiser – assentiu. - É o meu primeiro dia de aula, minha família acabou de se mudar para cá. Minha mamãe disse que meu pai conseguiu um bom trabalho por aqui e por isso a gente se mudou. Eu sinto saudade da minha antiga escola e das minhas amigas. Eu tinha muitas amigas onde eu morava. Elas sempre dormiam na minha casa. Minha mamãe gosta de fazer doces então alugávamos um filme da Barbie e comíamos os doces da minha mãe.
Roberta permaneceu muda. Melissa não conseguiria muitas amigas por aqui falando tanto desse jeito, pensou.
- E você? – Melissa perguntou calando a matraca.
- Roberta.
- E te chamam de Roberta?
- Sim.
- Ah, mas – fez uma pausa dramática - Eu posso te chamar de amiga?
A pergunta pegou Roberta de surpresa.
- Er... Não sei. Pode?
A sirene do intervalo foi acionada. As meninas taparam os ouvidos com o barulho.
Roberta girou nos calcanhares indo para onde as demais crianças estavam seguindo. Melissa se apressou para acompanha-la.
- Amiga! –chamou.
Andando lado a lado de Roberta, Melissa sorriu feliz.
- Será que vamos ser amigas para sempre?
Roberta sacudiu a cabeça. Da onde essa menina tirava essas perguntas?
- Eu não sei. Vamos?
- Vamos! – Melissa se apressou em dizer, sonhando: – Vamos ser mais amigas quando grandes. Vamos dividir as nossas roupas e usar maquiagem! Minha mamãe tem muitas maquiagens, pode nos emprestar.
- Vamos? - Roberta riu. Essa menina do interior era engraçada.
- Sim. Amigas para sempre!





Nenhum comentário: